Artigo
Sentimentos de Esgotamento, Exaustão de energia, Aumento da Apatia com o trabalho, Eficácia reduzida, Negativismo ou Cinismo com a rotina profissional.
Estes são os sintomas que, desde 2019 e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) definem a Síndrome de Burnout. Sim, uma Síndrome e não uma condição médica, pois a OMS classificou-a como um problema da área ocupacional para que não houvessem dúvidas que esta síndrome estava intimamente relacionada com o trabalho.
Joana S. Mendes
Psicóloga Clínica e da Saúde
Mas como posso eu saber se estou ou não em Burnout?
A Síndrome de Burnout reflecte-se em três áreas distintas: física, emocional e comportamental.
Sintomas Físicos: Cansaço, Dificuldades em adormecer, Dores musculares e de cabeça
Sintomas Emocionais: Diminuição da motivação, Dúvidas do seu valor e capacidades, Solidão, Insatisfação e descontentamento.
Sintomas Comportamentais: Isolamento social, Diminuição do desempenho, Explosões de frustração e/ou raiva.
Estes são alguns sintomas, já as causas são diferentes em cada pessoa, pois o Burnout resulta de um abuso constante para além dos limites dos recursos físicos e emocionais de cada pessoa, durante demasiado tempo. Basta pensar num carro que gastou todo o combustível, mesmo que queiramos, ele não anda até o reabastecermos.
E é possível recuperar de um processo de Burnout?
A resposta curta é: Claro que sim. Porém, é necessária dedicação e sobretudo tempo. Creio que o ponto de partida para a recuperação de cada pessoa é mesmo perceber quais foram, para si, os motivos que a levaram ao Burnout. Isto vai ajudar as pessoas a perceber exactamente aquilo que lhes fez mal, e “as empurrou para o abismo”.
Esta introspecção vai permitir que a pessoa seja, em primeiro lugar, honesta com ela mesma, reconheça todos aqueles sintomas que não são normais (em si) e que tem um problema.
O passo seguinte seria falar com o seu chefe, mostre-lhe as suas dificuldades, aquilo que não está a conseguir fazer ou digerir. Se não o quiser fazer, pode também ir ao Médico de Família, explicar-lhe o que está a sentir e pedir uma baixa médica para que possa descansar e recuperar as suas energias.
Depois disso, chegou então a hora de se focar em descansar e recuperar as suas forças. O seu corpo precisa de sono de qualidade, descanso, comida nutritiva e sobretudo precisa de se ocupar com actividades que gosta. Antes de regressar, tente encontrar novas formas de lidar com o volume de trabalho e as suas responsabilidades.
No 1º dia após essa pausa, pode surgir a constatação que tudo está igual (ou até pior devido à sua ausência) e é aqui que não pode vacilar, todas aquelas mudanças que pensou fazer enquanto estava a descansar tem de as pôr em prática. Priorize-se, perceba quando já não está a ser produtiva/o numa tarefa e faça uma pausa. Faça uma caminhada durante o período do almoço. Espaireça... sempre que for o melhor para o seu cérebro, para o seu desempenho... sempre que for o melhor para si!
Se sentir os seus níveis de Stress a aumentar pode fazer o seguinte Exercício de Respiração:
. Sente-se ou deite-se confortavelmente com a sua coluna direita.
. Feche os olhos e concentre-se, inspirando pelo nariz e expirando pela boca.
. A sua respiração deve ser lenta, profunda e o mais silenciosa possível.
. Não force nada, tente que seja o mais natural e prazeroso possível para si, sentindo-se relaxado/a.
. Se sentir que os seus pensamentos começam a dispersar, não se preocupe, volte a concentrar-se na sua respiração.
Para ser mais fácil, pode colocar a mão em cima da barriga e sempre que inspira a sua mão tem de subir, já quando expira a sua mão descerá. Isto irá ajudá-lo/a a usar todos os seus músculos respiratórios (e não só os do peito).
Inicie o hábito de fazer este exercício diariamente por 5 minutos; pode fazê-lo onde quiser, só tem de inspirar e expirar pausadamente, estando sempre consciente da sua respiração.
Evite estratégias que a/o “adormeçam” perante a vida.
Não use álcool, drogas, ou se deixe consumir pelas redes sociais; isso só irá “calar as suas dores” e torná-lo/a dormente e insensível a tudo o que a/o rodeia, pois tenderá a fechar-se sobre si mesmo/a. A verdade é que todas estas estratégias, para além de nada saudáveis, também não são eficazes e, verdadeiramente, não precisa delas. Foque-se antes em estabelecer e manter hábitos saudáveis.
É importante que reflicta sobre os seus valores e prioridades. Conheça claramente os seus limites e o que tem de fazer (e o que não pode fazer) para os proteger.
Pratique dizer Não!!!
Perceba que tem Direito e até o Dever de dizer Não... quando Não quer, Não gosta ou Não lhe faz sentido. Limite os telefonemas, os emails e os WhatsApp fora de horas. É importante que entenda que não é sustentável Viver para Trabalhar!
Procure ajuda Psicológica. É comum pensar-se que a procura de ajuda especializada deve ser feita somente em casos extremos. Nada podia estar mais longe da verdade. Mesmo que se encontre com sintomas leves de Burnout deve procurar ajuda Psicológica para que possa prevenir um agravamento da sua condição.
É muito importante que tenha acompanhamento Psicológico durante a sua recuperação.
Vão existir desafios e vai ser necessário fazer algumas mudanças na forma como enquadra o trabalho na sua vida e para isso é fundamental uma visão científica, especializada em Psicologia e imparcial que tenha os seus melhores interesses em mente.
Recuperar de um estado de Burnout leva tempo.
É importante que todos saibamos isto.
Para que consciente e deliberadamente possamos ter o tempo necessário para restabelecermos todas as nossas forças, para nos sentirmos capazes não só de regressar ao trabalho, mas sobretudo de voltar a sentir Alegria no Trabalho.