Artigo
“Tenho medo de falhar no trabalho, estou sempre preocupada/o se cometi algum erro, se está tudo bem...”.
“Quanto mais tento não falhar, mais falho... será que deixei de conseguir fazer... Será que perdi capacidades?”
Joana S. Mendes
Psicóloga Clínica e da Saúde
Como Psicóloga Clínica, estas palavras e este tipo de situações têm-se tornado cada vez mais frequentes em consulta. O Medo de Falhar tem o poder de transformar alguém extremamente confiante e decidida/o numa pessoa insegura que questiona tudo sobre si mesma e por isso não consegue agir.
E como se chega aqui? A resposta curta é: a pessoa falhou e acredita que vai continuar a falhar.
Tudo começa no processo de aprendizagem. Todos nós aprendemos através da repetição. Repetimos várias vezes a mesma acção até a fazermos sem erros. Quando isso acontece, acreditamos que sabemos fazer aquela tarefa. Sempre que a fazemos bem, reforçamos a ideia de que a sabemos fazer. Tudo está certo.
O problema está quando a pessoa começa a cometer muitos erros naquela tarefa, começa a interrogar-se e a ficar preocupada com o seu desempenho, capacidades e a achar que há algo de errado consigo. A partir daqui é uma “bola de neve”. Os erros começam a ser regulares e difíceis de ignorar: aumentam em número e em gravidade ou até são tão simples que levam a pensamentos como:
“Como é que eu errei desta maneira? Como é que é possível que eu não tenha visto isto... Até alguém que não entende errava desta maneira...”
Este tipo de pensamentos associados a erros consecutivos coloca a pessoa numa espiral de dúvida e sofrimento que a obriga a policiar as suas acções. Inicia assim um processo repetitivo de verificar e reverificar o seu trabalho, com o intuito de evitar erros. No entanto, o oposto acontece! A pessoa começa a errar... cada vez mais...
“Quanto mais eu tento fazer tudo direitinho, mais erros aparecem... E eu não sei como... Eu não percebo, eu não sei o que estou a fazer mal... Eu tento fazer tudo bem, mas... ”
O medo de falhar instalou-se e é normalmente neste ponto que as pessoas costumam procurar ajuda. Sentem-se completamente desesperadas, sem se reconhecerem ao espelho.
E como um/a Psicólogo/a pode ajudar?
Para mim, é crucial que a pessoa possa compreender o caminho que a levou a este estado, só assim, acredito, poderá ser uma verdadeira aliada do seu Processo de Recuperação Psicológica.
Uma comparação que gosto de usar é olhar para a mente como se fosse uma bateria que quando está carregada e descansada tem ao seu dispor 100% da sua carga para fazer as tarefas do dia-a-dia. Há medida que o medo de falhar se instala, aqueles pensamentos negativos começam a ocupar cada vez mais espaço, isto é, cada vez mais “percentagem da nossa mente”.
Quando os erros se sucedem, o espaço ocupado por estes pensamentos aumenta rapidamente e quando são reforçados aumentam ainda mais e sem que a pessoa se aperceba, estes pensamentos tornam-se dominantes e passam de dúvidas e medos a verdades que são agora aceites.
Isto significa que quando uma pessoa está a fazer uma tarefa os seus pensamentos dominantes são invariavelmente:
“Eu vou falhar!
Eu não faço nada de jeito!”
E o que é que acontece quando mais de metade da mente está focada no erro e a acreditar que vai errar? A pessoa vai, invariavelmente, falhar! Percebendo isto, passamos para a próxima fase: a aceitação da falha e a eliminação do medo. É importante que a pessoa incorpore a falha no seu desempenho, sabendo que é algo que pode acontecer.
É importante aqui fazer uma espécie de retrospectiva e pensar todas as vezes que no passado fez algo e perguntar-se: “Naquela situação eu podia ter errado?”
A resposta será, irá perceber: “Claro que sim.”
Errar no seu passado, sempre foi uma possibilidade, é uma possibilidade agora no presente e sempre será uma possibilidade, no futuro.
Assim sendo, terá que haver uma mudança na forma como a pessoa olha para cada tarefa, não com a certeza que já falhou, mas antes sentindo dentro de si que vai dar o seu Melhor, que pode falhar, mas vai empenhar-se ao máximo e dar uso às suas capacidades. E isto, basta.
E se voltar a errar, a falhar?
Se errar, pergunte-se: “Dei o meu Melhor?”
Se a resposta for sim, então tudo está certo, pois nada mais há a fazer do que aceitar. Aceitarmos que somos falíveis como qualquer outra pessoa. Aceitarmos que falhar é normal, que faz parte da aprendizagem e crescimento como pessoa. Desta forma, podemos nos focar na resolução do erro, usando tudo o que sabemos, dando mais uma vez o nosso melhor.
Quando este sentimento, esta certeza, reina dentro de nós sentimo-nos leves, tranquilos/as e temos a certeza que nada mais há a fazer... E tudo está bem! 😊